O que é piodermite canina?
As piodermites (“pio” = pus) são uma das principais causas de dermatopatias em cães. Elas nada mais são do que um processo de infecção na pele provocado por bactérias.
Ela frequentemente ocorre como uma complicação de doenças de base, como alergias (alergia alimentar, dermatite atópica, alergia a picadas de pulgas), doenças endócrinas (hipotiroidismo, HAC), doenças parasitárias (sarna negra, sarna vermelha), dentre outras.
No caso da piodermite canina, o patógeno mais comumente isolado é uma bactéria Gram-positiva chamada Staphylococcus pseudintermedius. Acredita-se que o S. pseudintermedius colonize a pele e as membranas mucosas em cães saudáveis.
Leia mais: Piodermite: saiba tudo sobre a doença
Quais são os tipos de piodermite?
As piodermites podem ser caracterizadas em superficiais ou profundas de acordo com a camada cutânea onde ocorre o processo infeccioso. A piodermite profunda acomete as camadas inferiores da pele (derme, subcutâneo). Elas podem acontecer principalmente caso a piodermite superficial não seja corretamente tratada.
Piodermites superficiais:
impetigo
piodermite esfoliativa
foliculite bacteriana
dermatite piotraumática
piodermite mucocutânea
Piodermites profundas:
foliculite-furunculose-celulite
piodermite interdigital
piodermite mentoniana
piodermite nasal
Piodermite canina tratamento
O tratamento das piodermites representa um grande desafio para os clínicos devido aos crescentes casos de estafilococos resistentes à meticilina (MRS). Como a piodermite geralmente está associada a outras doenças, é fundamental que a causa de base (alergia, endocrinopatia, etc) seja devidamente tratada.
A escolha do tratamento pode se basear em antibióticos orais e/ou terapia tópica, a depender da gravidade da lesão.
Qual o tratamento para piodermite canina?
Diretrizes recentes (Morris et al 2017), afirmam que a terapia tópica é a opção recomendada para casos de piodermite superficial. O tratamento tópico inclui sprays, loções, xampus etc. A terapia tópica é a modalidade de eleição para o tratamento de piodermites de superfície e superficiais. Os principais ativos são:
Clorexidine
Peróxido de benzoíla
Hipoclorito de sódio
Agentes antibacterianos com eficácia antiestafilocócica comprovada incluem principalmente clorexidina e peróxido de benzoíla. O clorexidine é uma biguanida de ações antisséptica e desinfetante com espectro de ação abrangendo bactérias Gram positivas e negativas , leveduras incluindo Malassezia. Há evidências de que o hipoclorito de sódio é anti-estafilocócico e eficaz contra MRSP.
A prescrição do antibiótico oral deve ser preferencialmente fundamentada na realização prévia de exames de cultura e antibiograma para identificação da bactéria e de seu perfil de sensibilidade. Essas informações auxiliam o clinico veterinário a eleger o melhor antibiótico. No manejo das piodermites, superficiais ou profundas, o período mínimo de terapia antibiótica oral é de 3 a 12 semanas a depender do quadro clínico e resposta terapêutica. Outra recomendação geral quanto ao tempo de tratamento da piodermite superficial é tratar cada episódio infeccioso por sete a dez dias adicionais após a resolução clínica.
A Cefalexina é considerado um antibiótico de primeira escolha porque comumente apresenta elevada eficácia e baixos efeitos colaterais. Efeitos colaterais da terapia sistêmica: Embora raros, podem ocorrer efeitos adversos da antibioticoterapia. Os sintomas mais comuns são náuseas, vômitos e diarreia
A duração do tratamento de qualquer episódio de infecção também é importante a considerar. Não tratar uma infecção por um período de tempo adequado resultará em recorrência frequente.
Leia também: Piodermite canina: como tratar?
Piodermites em cães e alternativas ao uso de antibióticos
Devido aos casos de resistência, tem crescido o interesse pelo uso de óleos essenciais (OEs) como compostos alternativos. Os óleos essenciais são substâncias naturais extraídas de plantas que possuem propriedades antimicrobianas. Eles contêm compostos químicos, como terpenos e fenóis, que têm a capacidade de inibir o crescimento de microrganismos.
Os óleos essenciais podem ser eficazes contra uma ampla gama de patógenos, incluindo bactérias resistentes a antibióticos. Os OEs são obtidos a partir de vegetais, como folhas, brotos, frutos, flores, ervas, galhos, cascas, madeiras, raízes e sementes, por meio de destilação a vapor ou maceração com gorduras ou prensagem.
Oléos essenciais e conceito de sinergia
A combinação de óleos essenciais e antibióticos pode apresentar benefícios interessantes. Estudos têm demonstrado que essa combinação pode melhorar a eficácia dos antibióticos, reduzindo a quantidade necessária para eliminar microrganismos patogênicos. Além disso, a sinergia pode ajudar a prevenir o desenvolvimento de resistência bacteriana, uma vez que os óleos essenciais atuam em diferentes mecanismos de ação em comparação aos antibióticos convencionais.
O conceito geral da sinergia antimicrobiana é baseado no princípio de que a combinação de dois ou mais agentes antimicrobianos pode aumentar a eficácia, reduzir a toxicidade ou os efeitos colaterais, aumentar a biodisponibilidade e diminuir a resistência antimicrobiana. Novas combinações antimicrobianas altamente eficazes, que incluem produtos naturais, têm se tornado uma prioridade de pesquisa (P&D).
A sinergia antimicrobiana pode ocorrer de várias maneiras. Os óleos essenciais podem aumentar a permeabilidade da membrana celular bacteriana, permitindo que os antibióticos penetrem mais facilmente nas células e causem danos.
Pesquisa veterinária com óleos essenciais
Em um estudo recentemente publicado, os pesquisadores testaram a atividade antimicrobiana in vitro dos óleos essenciais de patchouli e tea tree (melaleuca), aplicados isoladamente e em combinação com gentamicina e enrofloxacina. O objetivo do estudo foi estudar novas abordagens terapêuticas usando OEs selecionados para o tratamento da piodermite canina.
Um total de 13 cepas de Staphylococcus pseudintermedius e 8 cepas de Staphylococcus aureus foram estudadas. Para avaliar a sensibilidade de cada cepa aos agentes antimicrobianos, foram utilizados dois óleos essenciais comerciais de patchouli (Pogostemon cablin) e tea tree (Melaleuca alternifolia), além de dois antibióticos (gentamicina e enrofloxacina).
Resultados e conclusões da pesquisa
Os resultados obtidos demonstraram uma clara eficácia in vitro dos óleos essenciais testados contra cepas MRSP e MSSP isoladas de cães.
Os pesquisadores concluem que os óleos de patchouli e tea tree podem ser boas alternativas para o tratamento de casos graves de piodermite em cães, especialmente quando se trata de cepas multirresistentes. Os resultados são promissores e os autores recomendam que esses compostos continuem sendo explorados, principalmente com testes clínicos para verificação de eficácia, toxicidade, espectro microbiano e segurança.
A gentamicina, em comparação com a enrofloxacina, pareceu ter uma alta propensão a interagir com os óleos essenciais. Ao contrário, não foram observadas interações entre enrofloxacina e OEs. Ambos os OEs comerciais foram caracterizados por composição natural sem adulteração artificial.
*** Vale lembrar que os resultados aqui relatados são de estudos in vitro e necessitam da fase clínica para assegurar eficácia e segurança.
O óleo essencial de patchouli é extraído de uma planta originária do Sudeste Asiático, Madagascar, Índia, Brasil, Japão e China. A Indonésia é responsável por fornecer cerca de 90% do óleo de patchouli no mundo todo. No entanto, devido à sua produção em pequena escala, os óleos essenciais muitas vezes têm um preço elevado, o que cria um incentivo para que fabricantes e distribuidores desonestos os adulterem. Os principais métodos de adulteração de óleos essenciais incluem a diluição com gordura vegetal, a mistura com óleos essenciais mais baratos ou a adição de componentes sintéticos para imitar o aroma característico.Tais modificações também podem afetar a atividade antimicrobiana dos OEs.
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Perguntas frequentes da internet
Piodermite golden retriever
As piodermites geralmente estão associadas a outras doenças, é fundamental que a causa de base (alergia, endocrinopatia, etc) seja devidamente investigada e tratada por um Médico Veterinário.
Como o cachorro pega piodermite?
A piodermite geralmente ocorre quando o animal tem alguma outra doença concomitante: alergias, atopia, sarnas, etc. Portanto, o cachorro não "pega" piodermite, ele desenvolve piodermite.
Qual melhor shampoo para piodermite canina?
Os xampus recomendados para a piodermite canina são os que tem eficácia antiestafilocócica comprovada incluem principalmente clorexidina e peróxido de benzoíla. Consulte um Médico Veterinário.
Qual a diferença entre piodermite e dermatite?
A piodermite é uma condição cutânea caracterizada por uma infecção bacteriana na pele, geralmente causada por bactérias como Staphylococcus spp. A dermatite, por outro lado, é uma inflamação da pele que pode ser causada por várias razões, incluindo alergias, condições autoimunes, etc.
Existe tratamento caseiro para piodermite canina?
Não! Primeiro é importante saber que as piodermites em cães normalmente ocorrem devido a uma outra causa de base como alergias, doenças causadas por ácaros, etc. Por isso, a piodermite é "a ponta do iceberg" significando que de nada adianta tratar a piodermite se a causa de base não for identificada e tratada.
Outro ponto importante é que para haver eficácia no tratamento, é necessário usar produtos (tópicos ou orais) comprovadamente eficazes. Por isso, não adie a consulta com um Médico Veterinário. Quanto antes seu cachorro for examinado, maiores são as chances da doença ser identificada e corretamente tratada. Consulte um Médico Veterinário.
Qual melhor antibiótico para meu cachorro?
Normalmente os antibióticos beta-lactâmicos são os primeiros antibióticos a serem prescritos. Porém, essa é uma resposta que só é possível ser dada após uma avaliação do seu animal. Consulte um Médico Veterinário.
A dermatite do cachorro passa para humanos?
Depende da doença. Existem doenças de pele como dermatofitose (fungos), escabiose (sarna vermelha) que tem alto potencial de transmissão para seres humanos. Consulte um Médico Veterinário.
O que é piodermite canina?
A piodermite canina é uma infeccção cutânea causada por bactérias. Essa é uma das principais doenças dos cães.
Qual o tratamento para piodermite canina?
A piodermite pode ser tratada com produtos antissépticos como shampoos de clorexidina, peróxido de benzoíla, hipoclorito de sódio e outros agentes antibacterianos com eficácia antiestafilocócica comprovada. Além disso, pode requerer antibióticos orais a depender do quadro clínico.
O que causa a piodermite canina?
As principais causas de base são alergias como atopia, dermatite alérgica à picada de pulgas (DAPP), alergia alimentar, doenças endócrinas como hipotireoidismo ou hiperadrenocorticismo, dentre outras.
Piodermite em gatos
As piodermites em gatos são muito menos frequentes do que em cães, mas igualmente têm grande importância clínica. Quer entender melhor desse assunto? Clique aqui
Atenção: As informações fornecidas neste texto são de natureza informativa e não substituem a orientação e o diagnóstico de um médico veterinário qualificado. É fundamental que você consulte um profissional qualificado antes de iniciar qualquer tratamento ou intervenção terapêutica em seu animal de estimação. Priorize o bem-estar do seu animal e agende uma consulta com um médico veterinário qualificado. Ao buscar atendimento profissional, você estará proporcionando ao seu pet os cuidados adequados e garantindo sua saúde e qualidade de vida.
Referências
Activity of Patchouli and Tea Tree Essential Oils against Staphylococci Isolated from Pyoderma in Dogs and Their Synergistic Potential with Gentamicin and Enrofloxacin
Sobre a autora
Dra Aline Santana é médica veterinária formada pela Universidade Federal de Viçosa, com residência em clínica médica de pequenos animais pela mesma instituição. Possui mestrado e doutorado em Ciências pelo Departamento de Clínica Médica da FMVZ/USP, com período de intercâmbio realizado no exterior (University of Minnesota, Estados Unidos). Desde 2012, Dra. Aline Santana é sócia da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária (SBDV). Durante o período de 2015 a 2021, atuou como diretora de mídias e colaboradora da SBDV.
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