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Fenótipos clínicos na Dermatite Atópica Canina e seu impacto nas decisões terapêuticas

Atualizado: 22 de mai.

É comum nos depararmos no dia a dia de tratamento de cães atópicos com a seguinte pergunta: “Qual protocolo você mais utiliza para o tratamento da Dermatite Atópica Canina (DAC)?”. E então, como podemos responde-la? Na verdade, essa é uma resposta cada vez mais difícil de dar, devido às diferentes manifestações clínicas dos cães alérgicos e à quantidade de produtos disponíveis para tratá-los.

 

Soma-se ainda, a essa desafiadora tarefa, os estudos recentes com transcriptoma e o crescente entendimento de que diversas citocinas estão envolvidas no paciente atópico (Ex: IL-31, IL-2, IL-3, IL-4, etc) e a cada ano que passa novas citocinas são descobertas e descritas, como a TSLP (Thymic stromal lymphopoietin).

 

Dermatologia comparada

Na medicina humana tem-se uma problemática semelhante e, com ela, veio a necessidade e a proposta de classificação dos pacientes atópicos divididos em subgrupos de acordo com a sua manifestação endo/fenotípica.


Essa divisão se propõe a abordar cada paciente de acordo com as células/moléculas/citocinas (endótipo) envolvidas na resposta imune, assim como a sua repercussão clínica (fenótipo; interação entre genética e fatores ambientais). Com isso, tem-se a perspectiva de indicações medicamentosas alvo-específicas que aumentem a chance do sucesso terapêutico e reduzam a incidência de efeitos colaterais indesejados.

 

Fenótipos e Endótipos na Dermatologia Veterinária

Na dermatologia veterinária, esse tema foi introduzido em torno de 2011. Porém, na época, nenhuma associação concreta foi possível de ser estabelecida. Desde então, poucos foram os trabalhos que retomaram essa importante discussão. Hoje, sabemos que há uma variedade sintomato-lesional de acordo com a raça, com estudos envolvendo os locais anatômicos mais comumente afetados de Labradores e Golden Retrievers, Bulldogues Franceses, Sharpeis, dentre outros. Contudo, dada a variedade de raças de cães existentes, não se pode extrapolar esses resultados para outras raças comuns no Brasil, como Shih-Tzus, Yorkshires e Pomerânios. 


Com a progressão dos estudos da DAC, tem-se discutido, inclusive entre pesquisadores brasileiros, a divisão dos pacientes de acordo com o padrão de progressão clínica em dois fenótipos distintos: agudo ou crônico. Esses perfis lesionais desenvolvem-se com base nas células e citocinas envolvidas no processo inflamatório e, com isso, nos trazem uma perspectiva de escolhas terapêuticas mais direcionadas. Enquanto os cães com fenótipo agudo têm uma polarização de células/moléculas mais voltada para a via de resposta Th2, os cães com o fenótipo crônico possuem uma polarização mista, com envolvimento de resposta Th1/Th2.


Fenótipo agudo: polarização de células/moléculas voltada para Th2


Fenótipo crônico: polarização mista, com envolvimento de resposta Th1/Th2


Fonte: Ferreira et al., 2023. Canine atopic dermatitis: systemic immunomodulatory protocol based on clinical phenotype.

Estratégias terapêuticas

De posse dessa informação, tem-se um melhor direcionamento sobre quais fármacos imunomodulatórios podem ser utilizados para bloquear os prováveis perfis de citocinas envolvidos na resposta inflamatória de cães atópicos.


Atualmente, contamos com quatro grupos de medicamentos sistêmicos voltados para o controle específico do prurido: Glicocorticoides (Prednisolona, Deflazacorte, Dexametasona), Inibidores de JAK (Oclacitinib), Bloqueadores de Calcineurina (Ciclosporina) e Anticorpos Monoclonais (Lokivetmab). Esses medicamentos diferem em tempo de início de resposta terapêutica, espectro de ação e efeitos colaterais.

Imunomodulador

Citocinas bloqueadas

Glicocorticoides

IFN-g, IL-1, IL-2, IL-3, IL-4, IL-5, IL-6, IL-8, IL-11, IL-12, IL-13, IL-16, TNF-a, variadas moléculas de adesão.

Oclacitinib

IL-2, IL-4, IL-6, IL-13, IL-31.

Ciclosporina

IL-2, IL-4, IL-5, IL-6, IL-8, IL-9, IL-13, IL-17, IL-19, IL-22, IL-31, variadas moléculas de adesão.

Lokivetmab

IL-31.

Fonte: Adaptado de Ferreira et al., 2023. Canine atopic dermatitis: systemic immunomodulatory protocol based on clinical phenotype.



Adaptado de: Treatment of canine atopic dermatitis: time to revise our strategy? - Olivry et al 2019

Apesar de termos excelentes fármacos disponíveis para o controle do prurido, não podemos nos esquecer de que a terapia da DAC é multimodal, envolvendo de forma frequente o controle de infecções cutâneas/otológicas, a hidratação/reestruturação de barreira cutânea e a redução da exposição aos prováveis alérgenos, incluindo os antígenos alimentares e parasitários.


Além disso, devemos nos lembrar da individualidade do paciente por meio da seguinte pergunta: “Como a DAC se manifesta nesse cão? É através de otites de repetição? Lambedura de patas? Piodermites? Malassezioses? Ou o conjunto dessas e outras alterações?”. Com isso, será possível selecionar melhor as estratégias para controle de crise e manutenção desse indivíduo.

 

Conclusão e perspectivas futuras

Mesmo com avanços no entendimento da doença, muito ainda se tem a explorar, visto que se trata de uma doença com envolvimento imunológico complexo. Algumas perguntas continuam a pairar nos consultórios clínicos e entre os pesquisadores: Qual animal responde melhor a qual terapia? Os diferentes alérgenos podem induzir diferentes polarizações do sistema imunológico? O que influencia as mudanças nas vias de sinalização inflamatória do sistema imune ao longo da vida do animal? Como e quando ocorrem? Qual a influência das disbioses cutâneas na progressão molecular da DAC?


Essas e muitas outras perguntas ainda precisam ser respondidas, sendo reforçada a execução de pesquisas básicas e clínicas nesse tema. Por fim, mesmo em meio à essa desafiadora tarefa, permanece a expectativa de que em um futuro breve a dermatologia veterinária caminhará para uma abordagem diagnóstica e terapêutica cada vez mais personalizada e efetiva.




Sobre o autor

Dr Tiago Cunha Ferreira é Médico Veterinário, com mestrado e doutorado em Ciências Veterinárias pela Universidade Estadual do Ceará. Especializado em Clínica Médica de Cães e Gatos e Dermatologia Veterinária pela Equalis. Além disso, é membro efetivo da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (ANCLIVEPA/CE) e da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária (SBDV). Atualmente, atua como professor assistente na Universidade Estadual do Ceará. E-mail: tiago.cunha@uece.br


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Referências

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TAMAMOTO-MOCHIZUKI C, CRAWFORD N, EDER JM, GONZALES AJ, OLIVRY T. Cytokine transcriptome profiling in acute experimental canine atopic dermatitis skin lesions after IL-31 inhibition with lokivetmab. Vet Dermatol. 2023

 

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FERREIRA, T. C. et al. Canine atopic dermatitis: systemic immunomodulatory protocol based on clinical phenotype. Ciência Rural, v. 53, p. e20220068, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0103-8478cr20220068 

 

LABIB A, YOSIPOVITCH G, OLIVRY T. What can we learn from treating atopic itch in dogs? J Allergy Clin Immunol. 2022 Aug;150(2):284-286. doi: 10.1016/j.jaci.2022.05.007. Epub 2022 May 21. PMID: 35609710.

 

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