Por que os gatos Persas são mais susceptíveis à dermatofitose?
Sempre nos questionamos porque os gatos Persas são mais predispostos às infecções dermatofíticas e por que eles têm uma propensão ao desenvolvimento da dermatofitose crônica, incluindo até casos graves conhecidos como pseudomicetomas.
Com o auxílio da genômica e de novas tecnologias emergentes, foi possível avançar no entendimento da patogênese da dermatofitose e da susceptibilidade genética associada aos gatos da raça Persa.
Genes envolvidos na dermatofitose
Pesquisadores da Universidade do Texas avaliaram essa questão ao analisar 26 gatos Persas adultos, divididos em 10 casos de dermatofitose severa e 16 controles. Realizando o sequenciamento completo do genoma desses animais, identificaram mutações genéticas significativas.
Uma descoberta crucial foi a alteração nos genes da família S100, especialmente o S100A9 que é responsável pela codificação de uma subunidade do peptídeo antimicrobiano (AMP) conhecido como calprotectina. A calprotectina é uma proteína antimicrobiana com papel fundamental na defesa do organismo, não apenas combatendo fungos e bactérias, mas também desempenhando funções nos processos inflamatórios e no sistema imunológico.
Desbalanço imunológico e susceptibilidade
Em outras palavras, as modificações associadas a essa proteína têm o potencial de influenciar a gravidade, a cronicidade da infecção e a resposta imunológica ao dermatófito, teoricamente tornando os gatos Persas mais suscetíveis às infecções por dermatófitos.
Conclusão
Os pesquisadores concluem que as infecções dermatofíticas são complexas e influenciadas por diversos fatores. Além disso, destacam que os gatos Persas podem apresentar outros genes associados, e pesquisas futuras serão essenciais para esclarecer completamente essa suscetibilidade. No entanto, essa pesquisa já representa um passo significativo na compreensão do motivo pelo qual os Persas são mais predispostos à dermatofitose.
Novas investigações precisam ser conduzidas para melhor entender essa complexa interação, mas esses dados abrem um importante caminho.
Biomarcadores para o diagnóstico da dermatofitose
A identificação de alterações genéticas envolvidas na dermatofitose tem o enorme potencial de fornecer informações relevantes ao manejo clínico da doença, ao surgimento de biomarcadores para o diagnóstico, e até contribuir em decisões relacionadas à programas de reprodução na raça.
Conquistas a longo prazo
Certamente são conquistas a longo prazo, mas que colocam a Medicina Veterinária cada vez mais próxima do cenário da inovação genômica e no rumo da medicina veterinária personalizada e de precisão.
Referências
Myers et al. An ancient haplotype containing antimicrobial peptide gene variants is associated with severe fungal skin disease in Persian cats. PLoS Genetics, 2022 - https://journals.plos.org/plosgenetics/article?id=10.1371/journal.pgen.1010062
Almela RM et al. Should precision medicine be encouraged in veterinary dermatology? Vet Dermatology, 2017 - https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/vde.12446
Sobre a autora desse post
Dra Aline Santana é médica veterinária formada pela Universidade Federal de Viçosa, com residência em clínica médica de pequenos animais pela mesma instituição. Possui mestrado e doutorado em Ciências pelo Departamento de Clínica Médica da FMVZ/USP, com período de intercâmbio realizado no exterior (University of Minnesota, Estados Unidos). Desde 2012, Dra. Aline Santana é sócia da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária (SBDV). Durante o período de 2015 a 2021, atuou como diretora de mídias e colaboradora da SBDV.