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Criptococose em gatos: Entenda tudo sobre a doença

Atualizado: 28 de out. de 2023

O que é a criptococose?

A criptococose é uma doença fúngica de distribuição mundial que acomete humanos e animais e é considerada a micose sistêmica mais comum em gatos.


Etiologia e epidemiologia

A infecção é causada por uma levedura oportunista do gênero Cryptococcus spp. As principais espécies envolvidas são Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii que compreendem vários tipos moleculares.


O reservatório ambiental do C. neoformans é comumente associado à excreção de aves, enquanto os isolados ambientais de C. gattii são associados a madeira em decomposição e eucaliptos.


Fisiopatogenia

A infecção é normalmente adquirida pela inalação de basidiósporos de Cryptococcus do ambiente contaminado, seguida de adesão e invasão de células epiteliais levando à colonização da mucosa. Essa micose é geralmente de evolução crônica e sistêmica.


Transmissão

A transmissão da criptococose ocorre principalmente pela inalação de esporos do fungo Cryptococcus spp, que estão presentes no ambiente, especialmente em solos contaminados com fezes de aves, como as fezes de pombos.


A cavidade nasal é comumente o local inicial da infecção e, raramente, a transmissão também pode ocorrer por inoculação cutânea.


Quais os sintomas de criptococose em gatos?

Os sintomas da criptococose em gatos podem variar dependendo da forma da doença, que pode acometer diferentes órgãos do corpo do animal. Os sinais clínicos mais comuns incluem:

  1. Problemas respiratórios, como espirros, tosse, dificuldade para respirar e secreção nasal.

  2. Lesões nos olhos, como inflamação da conjuntiva, uveíte e cegueira.

  3. Lesões cutâneas, geralmente com aspecto ulcerado e que não cicatrizam.

  4. Problemas neurológicos, como convulsões, nistagmos, alterações no comportamento, paresia e ataxia (dificuldade para andar).

  5. Lesões gastrintestinais que comumente levam à perda de apetite, perda de peso, êmese, anorexia, emaciação e diarreia.

  6. Lesões cutâneas como nódulos, tumores na ponte nasal (famosa lesão "nariz de palhaço").

É importante lembrar que a criptococose em gatos pode ser confundida com outras doenças, por isso é essencial levar o animal ao veterinário para um diagnóstico preciso e tratamento adequado.


Forma cutânea

Classicamente, a apresentação clínica da infecção criptocócica em gatos consiste em nódulos solitários ou múltiplos localizados no plano nasal ou ponte nasal. Estima-se que 40% dos casos de criptococose tem envolvimento cutâneo.


Forma respiratória

Rinorréia do tipo serosa ou muco-purulenta.


Forma neurológica

Podem ocorrer convulsões, nistagmos, alterações no comportamento, paresia e ataxia (dificuldade para andar).


Envolvimento ósseo

O envolvimento ósseo como osteomielite criptocócica é uma entidade clínica rara da criptococose. Confira esse artigo que relata descreve um caso atípico de osteomielite criptocócica em um felino.


Forma oftálmica

Fotofobia, retinopatia, espasmos da pálpebra, opacidade da córnea, inflamação da íris, hifema, etc.


Diagnóstico

O diagnóstico presuntivo da criptococose é construído a partir da anamnese, epidemiologia, sintomatologia clínica e exames complementares.


O paciente teve contato com fezes de aves ou vive em uma área com alta prevalência da doença?


Alguns dos exames complementares que podem ser utilizados para auxiliar no diagnóstico da criptococose em animais incluem:

  1. Cultura fúngica: Coleta de amostras clínicas para cultura em meio específico, permitindo o crescimento e a identificação do fungo Cryptococcus spp. O crescimento em cultura (comumente ágar sabouraud) gira em torno de 5 dias.

  2. Citologia (exame citofungoscópico): Exame microscópico de amostras obtidas por punção ou esfregaços de secreções nasais ou lesões cutâneas, visando a detecção de células fúngicas características do Cryptococcus spp. Pode-se utilizar a tinta da china (nanquim) como coloração especial. Obs: os resultados negativos não excluem a possibilidade da doença.

  3. Exame histopatológico: geralmente realizado em amostras obtidas por meio de biópsia ou necropsia, que são submetidas para análise microscópica. A presença de células fúngicas com características típicas do Cryptococcus spp, como a cápsula polissacarídica que envolve as células, pode ser visualizada nesse exame. No exame histopatológico para diagnóstico da criptococose em animais, diversas colorações podem ser utilizadas para melhorar a visualização e a identificação das estruturas presentes nos tecidos. Algumas das colorações mais comuns incluem: Hematoxilina-Eosina (HE), Ácido periódico de Schiff (PAS), Gomori-Grocott e mucicarmin de Mayer. A escolha da coloração utilizada vai depender do tipo de amostra coletada, da suspeita diagnóstica e da técnica empregada pelo patologista responsável pelo exame. (Quer saber como biopsiar e enviar a amostra? Acesse)

  4. Radiografias torácicas: Podem ser realizadas para avaliar possíveis lesões pulmonares associadas à criptococose.

  5. Exames oftalmológicos: Avaliação detalhada dos olhos em busca de lesões oculares características da criptococose.

  6. Provas moleculares: destaca-se o PCR, sobretudo utilizando-se como primer targeting o gene CAP59 envolvido na cápsula do fungo. Outro método é o NGS (sequenciamento de alto rendimento).


Citologia para o diagnóstico da criptococose:


Diagnóstico diferencial

-Esporotricose

-Neoplasias

-Infecções granulomatosas (nocardiose, micobacterioses, leishmaniose)


Qual o tratamento para a criptococose em gatos?

O tratamento da criptococose em gatos pode envolver diferentes abordagens, dependendo da gravidade da infecção e do estado geral do animal. O tratamento da criptococose em gatos pode incluir:


  1. Terapia antifúngica: O tratamento com antifúngicos é a principal abordagem no combate à criptococose em gatos. Dentre os medicamentos utilizados, destaca-se o itraconazol. A escolha do medicamento e a duração do tratamento devem ser determinadas pelo médico veterinário responsável, com base na gravidade da infecção e na resposta do animal ao tratamento.

  2. Tratamento de suporte: Alguns gatos com criptococose podem necessitar de tratamento de suporte, como fluidoterapia, alimentação assistida e suporte nutricional. Em casos mais graves, pode ser necessário o tratamento de outras condições associadas, como pneumonia, meningite, entre outras.

  3. Cirurgia: Em alguns casos de criptococose em gatos, pode ser necessária a remoção cirúrgica de lesões ou massas, especialmente quando há comprometimento da visão, respiração ou outros órgãos vitais.


Como prevenir a criptococose?

A prevenção da criptococose é obtida com a redução do potencial de exposição.  Áreas com altas concentrações de excretas de aves/pombos devem ser evitadas.

  1. Evite áreas onde o fungo pode crescer, como locais com fezes de pássaros acumuladas ou solos ricos em matéria orgânica.

  2. Se o animal tiver um sistema imunológico comprometido, devido a alguma condição médica, consulte o médico veterinário para orientações específicas sobre a prevenção da criptococose.

  3. Leve o animal regularmente ao veterinário para exames de rotina e mantenha-o em dia com as vacinas e outros cuidados de saúde recomendados pelo médico veterinário.


Prognóstico

Varia de acordo com a espécie fúngica, carga fúngica, status imunológico do paciente, etc. Em geral o prognóstico é bastante favorável.


Criptococose em gatos transmissão para humanos

A transmissão entre animal-homem não foi documentada até o momento. No entanto, deve-se ter cuidados ao manipular o animal para que não haja inoculação acidental do fungo.


Perguntas frequentes da internet


Criptococose em gatos tem cura?

Sim! Felizmente, a criptococose pode ser tratada com medicamentos antifúngicos. O tratamento geralmente dura várias semanas a meses e pode incluir o uso de vários medicamentos. Com o tratamento adequado, a maioria dos animais se recupera completamente da criptococose. Consulte um Médico Veterinário!!


Critococose em gatos fotos



Como saber se o gato está com criptococose?

A transmissão da criptococose ocorre principalmente pela inalação de esporos do fungo Cryptococcus spp, que estão presentes no ambiente, especialmente em solos contaminados com fezes de aves, como as fezes de pombos. A cavidade nasal é comumente o local inicial da infecção e geralmente se manifesta em nódulos solitários ou múltiplos localizados no plano nasal ou ponte nasal. Consulte um Médico Veterinário.


O que é Cryptococcus em gatos?

A criptococose é uma doença fúngica causada por uma levedura oportunista do gênero Cryptococcus spp.


Qual o tratamento para a criptococose em gatos?

O tratamento da criptococose em gatos pode envolver diferentes abordagens, dependendo da gravidade da infecção e do estado geral do animal. De maneira geral o tratamento inclui a administração de antifúngico oral. Consulte um Médico Veterinário.


Como saber se peguei fungo do meu gato?

Algumas doenças fúngicas como dermatofitose e esporotricose podem sim ser transmitidas entre animais e seres humanos. Se você suspeita que seu gato tem alguma dessas doenças, saiba que elas tem cura. Consulte um Médico Veterinário.


Como se pega fungo de gato?

Algumas doenças fúngicas como dermatofitose e esporotricose podem sim ser transmitidas entre animais e seres humanos. Se você suspeita que seu gato tem alguma dessas doenças, saiba que elas tem cura. Consulte um Médico Veterinário.



Atenção: As informações fornecidas neste texto são de natureza informativa e não substituem a orientação e o diagnóstico de um médico veterinário qualificado. É fundamental que você consulte um profissional qualificado antes de iniciar qualquer tratamento ou intervenção terapêutica em seu animal de estimação. Priorize o bem-estar do seu animal e agende uma consulta com um médico veterinário qualificado. Ao buscar atendimento profissional, você estará proporcionando ao seu pet os cuidados adequados e garantindo sua saúde e qualidade de vida.


Sobre a autora

Dra Aline Santana é médica veterinária formada pela Universidade Federal de Viçosa, com residência em clínica médica de pequenos animais pela mesma instituição. Possui mestrado e doutorado em Ciências pelo Departamento de Clínica Médica da FMVZ/USP, com período de intercâmbio realizado no exterior (University of Minnesota, Estados Unidos). Desde 2012, Dra. Aline Santana é sócia da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária (SBDV). Durante o período de 2015 a 2021, atuou como diretora de mídias e colaboradora da SBDV.


Atenção: Este texto é uma criação original e está protegido pela lei de direitos autorais. Todos os direitos estão reservados à autora, sendo proibida a reprodução, distribuição, exibição ou qualquer forma de uso sem a expressa autorização por escrito da autora. Qualquer uso não autorizado do conteúdo deste website constitui violação dos direitos autorais e estará sujeito a medidas legais. Caso você tenha interesse em utilizar este texto ou parte dele, por favor, entre em contato através do seguinte endereço de e-mail: dermaconecta@gmail.com


Referências

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